Um dia uma amiga minha me perguntou: Um psicólogo é realmente neutro na relação terapêutica?
A partir dessa pergunta comecei a refletir sobre a viabilidade e a real necessidade da NEUTRALIDADE que permeia o trabalho de um psicólogo.
Minha reflexão parte da abordagem terapêutica que escolhi para trabalhar, a Gestalt-Terapia, que compreende o cliente na totalidade e deseja que o mesmo amplie o nível de consciência dentro do processo terapêutico, tendo desta forma o foco de levar as pessoas a restaurar o contato consigo, com os outros e com o mundo.
Bom, para se ter contato, parto que existe uma relação. A terapia então nesta perspectiva é relacional, é um encontro, visto que enfatiza a relação inter-humana, de um ser frente a outro ser. Para pensar sobre o conceito de encontro considero a obra Martin Buber, filósofo austríaco que afirma que o homem se constitui como ser humano através do ''entrar em RELAÇÃO''. Assim a terapia acontece não só fora ou dentro da pessoa, mas, sobretudo na relação entre elas. Aos poucos através desta relação terapeuta-cliente podemos acompanhar os progressos na vida do ser que está a nossa frente.
Para facilitar o processo da relação terapêutica, o psicólogo oferece disponibilidade na sessão, para que o cliente possa falar abertamente dos seus problemas, das suas dúvidas e angústias. Diferente de um amigo, o profissional respeitará o ritmo de cada pessoa para expor os seus pensamentos e sentimentos. Estará presente na relação e colocará o cliente como foco principal dela, assim o cliente direciona todo o processo terapêutico e o terapeuta acompanha as possibilidades dele, facilitando uma ampliação da consciência.
Depois dessa pequena reflexão (porque esse tema é muito amplo), pude constatar que o psicólogo não é completamente neutro na sessão, visto que ele também é um ser no mundo, porém se a neutralidade parece algo impossível, o psicólogo deve tomar cuidado para não direcionar a sessão falando de sua própria vida, focando somente em suas opiniões e conceitos. Entretanto, não posso negar que o todo do terapeuta também estará presente, na forma que o mesmo se veste, arruma os objetos na sala, e no seu jeito de ser (a singularidade do terapeuta) influenciando de alguma forma no cliente, porém, numa brincadeira de figura e fundo, o psicólogo com sua individualidade tão presente é fundo nessa relação tão importante, onde a figura é o ser (o cliente) que lhe procura pedindo ajuda, no foco da sua existência.
A verdadeira filosofia é re-aprender a ver o mundo.
Merleau-Ponty.
FONTES:
Buber, Martin (1979) - Eu e Tu - São Paulo, Editora Moraes